A esmagadora maioria da população portuguesa não se considera racista; no entanto, mais de um quarto não permitiria que uma filha ou filho namorasse uma pessoa negra.
Os números são alarmantes: mesmo com uma maioria a assumir-se não racista, mais de 16% das pessoas inquiridas afirma que sim, é racista. Quando a questão se volta para os outros, 43.7% acredita que os portugueses são racistas contra 44.5% que respondeu que não o são.
À pergunta “aceitaria que o/a seu filho/a namorasse ou casasse com alguém negro?”, 26.1% respondeu que não aceitava o relacionamento – ainda que 72.9% dxs inquiridxs não se considere racista. “Mas…”, acrescentaríamos.
“Chego à conclusão que a maioria é racista”, comenta Bernardo D’Almeida Lima, membro da direção da API, acrescentando: “É bom que Portugal veja que o colonialismo ainda está presente na atitude das pessoas brancas perante as pessoas negras. É bom que estes números estejam por aí. Se bem que tenho a noção de que a maioria não irá perceber a gravidade dos números apresentados”.
Os números são de um estudo promovido para lançar o debate à luz do primeiro episódio do programa “E Se Fosse Consigo?”, a estrear esta noite em simultâneo na SIC e na SIC Notícias. O episódio debruça-se precisamente sobre o racismo, com a cena ficcionada de uma filha a apresentar ao pai o namorado, negro. “E Se Fosse Consigo?” vai, assim, registar e mostrar as reações das pessoas em redor à encenação dos atores envolvidos.
Os resultados desse inquérito não me surpreendem minimamente… desconfiaria, até, se fossem muito diferentes. Penso que talvez o nosso problema é existir muito racismo «passivo», uma expressão que uso para designar pessoas que jamais sairiam à rua em marchas racistas ou que exprimiriam o seu racismo de forma violenta e pública, mas depois, se se trata de terem de enfrentar este tipo de situações, rapidamente se apercebe do que pensam na realidade…
Mas os 16% que se consideram racistas é realmente preocupante. Entre eles conto (infelizmente) o meu pai, mas agora que há um ano e tal que tem apoio domiciliário em casa, com pessoas de origem africana, vejo que lhe está a «passar» um pouco do racismo, pelo menos do racismo activo. Afinal de contas, uma das origens do racismo é o desconhecimento profundo do «outro». Quando lidamos com as outras pessoas numa base diária, e vemos que são exactamente iguais a nós, desaparecem os racismos ou a xenofobia…
Espero que o programa, para além do racismo, também aborde a questão trans. Tenho um exemplo concreto de uma pessoa que suspeito seriamente que seja uma «passivamente» transfóbica, a minha sogra; quando está em casa a ver televisão, e vê o show da Caitlyn Jenner, e a forma como muitas organizações LGBT ajudam pessoas trans* (e crianças trans*) a viverem a sua vida, a minha sogra é toda a favor, afirma-se 100% de espírito aberto e tolerante. Mas tanto a filha dela como eu suspeitamos fortemente que se eu me «revelasse» como transgénero, nunca mais seria bem-vinda em casa dela. Veremos. Mas como a minha sogra há imensa gente com educação, abertamente liberais, mas que, no fundo, no fundo, se lhes acontece «a elas», as coisas são bem diferentes…
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