MASSACRE EM ORLANDO: TERRORISMO OU CRIME DE ÓDIO?

“Sabemos o suficiente para dizer que isto foi um acto de terror e um acto de ódio”, declarou Barack Obama depois do massacre. 50 pessoas foram mortas e pelo menos outras 53 ficaram feridas, após um tiroteio no bar LGBTI+ Pulse Club, em Orlando, no estado da Flórida.

Mas este tiroteio terá mesmo sido um ataque terrorista? O atirador, Omar Mateen, é um cidadão norte-americano, estadounidense, de 29 anos. Apesar de os media frisarem os seus ancestrais afegãos, tentando estabelecer de forma errada e enganadora uma relação direta entre a nacionalidade afegã e a religião islâmica, a ex-mulher de Omar já declarou que Omar não costumava ser religioso. Também o seu pai declarou num pedido de desculpas público que o crime “nada teve a ver com religião”, e que o filho expressava sentimentos “anti-gay”.

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Poster – Pulse Club – 11 Junho

Para a noite de 11 de junho, sábado, o Pulse Club, um dos mais conhecidos bares LGBTI+ da cidade de Orlando, tinha anunciado uma “Latin Night”, uma noite temática dedicada a ritmos como o reggaeton, a bachata, o merengue ou a salsa, e focada especialmente nas pessoas de cor e latinas que pertencem à comunidade LGBTI+ local. As fotos que os media têm vindo a vincular mostram com clareza a predominância de pessoas não-brancas que frequentaram o bar nessa noite.

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Demetrice depois de ser ouvido enquanto testemunha

Estavam cerca de 320 pessoas no bar quando, por volta das duas horas da manhã, Omar entrou no local e começou a disparar. Um agente da polícia local que ali estava de serviço tentou alvejá-lo de volta, mas apenas três horas depois, durante as quais todas as pessoas presentes no bar foram feitas reféns, a situação foi encerrada, quando um agente swot alvejou mortalmente o atirador Omar.

Todos os factos recolhidos no local, incluindo testemunhos, descrevem com clareza um crime de ódio contra a população LGBTI+, especialmente contra os seus setores não-brancos. Tal ganha ainda maior impacto, se tivermos em conta que ao longo do mês de junho é celebrado por todo o mundo o Orgulho LGBTI+. A comunidade queer desta cidade é reconhecida pela sua diversidade, sendo numerosa em pessoas negras ou de cor. No início deste mês decorreu na cidade o Black Pride Orlando.

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Pessoas depois do massacre

O caso tem iniciado um participado debate as redes sociais, usando hashtags como #Orlando ou #PulseNightClub. Um dos tweets partilhados relembra: “A direita cristã nos últimos 6 meses introduziu pelo menos 200 projetos de lei anti-LGBT e as pessoas culpam o Islão por isto”.

No próximo sábado, dia 18 de junho, Lisboa irá assinalar o Orgulho LGBTI+ com a 17.ª Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa. Casos como estes relembram-nos que temos mais para resistir e lutar que para comemorar ou festejar. Por mais conquistas legislativas que possamos alcançar, o ódio continua a marcar – e demasiadas vezes a terminar com – as nossas vidas, sobretudo quando não somos pessoas brancas ou cis.

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